quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Claridade

Sala clara, assentos claros, pasme, até mesmo os livros são claros! Encontro-me em um profissional que se auto-intitula sincero, contudo, sinceramente, onde já se viu um psicólogo sincero?
Pondero sobre o ar que me transpira na sala, devaneio em desespero quando a vista clara não prendia minha atenção. Estranho com a demora deste homem. Enfim chega. Como todo o resto era bem claro que o mesmo estava claro, mesmo sendo aparentemente escuro. Senti-me confortável com sua presença, não me parecia insensato ou hipócrita ou falastrão.
- Diga-me, qual o problema – em uma voz calma, suspirante.
Hesitei. Minha pequena jornada ao meu universo interior estava clara, pensei que pareceria estar louco. – Bem, não sei ao certo – disse.
- Não tenhas medo, já me pagara. Agora fala. – interessante sua sinceridade, no entanto mantive-me atônito e ainda preocupado com meu ar excêntrico.
- Acredito estar em dívida com o Amor, e é notória sua fúria brutal e obliqüidade amedrontante – desabafo, ainda hesitante.
- Hum, compreendo. Defina amor. – Pareceu-me desdenhoso ou atento até demais. Escrevia em demasia, refletia em demasia.
- O Amor deveria tratar-se contigo, acredito. Já passara em minha cabeça que o mesmo tenha alguns distúrbios de personalidade. O senhor descobriria mais facilmente.
O olhar sem feições deixava-me inquieto, o barulho da caneta perturbava-me.
- Compreendo. Agora me diga o nome da senhorita.
Entrei em um sonho, inteiramente escuro como uma noite sem luar e sem estrelas. Finalmente entendi. O senhor sincero encontrou meu problema. Voltei à claridade do quarto.
- Incrível, encontrou meu problema! Vou-me!

Fui.

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